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quinta-feira, 3 de maio de 2018

“Tu Importas” Projeto de Responsabilidade Social da Fundação Volkswagen



 RESUMO


A Educação e Formação desempenham uma função essencial no desenvolvimento dos jovens, uma vez que os habilita com conhecimentos, capacidades e atitudes para o exercício de uma cidadania ativa e de uma profissão que os torne em seres pensantes, críticos e autónomos.


A atual situação económica do país compromete seriamente o futuro das novas gerações, devido às taxas de desemprego, aos empregos precários e à exigência da escolaridade obrigatória ou de mão-de-obra qualificada.


Nas classes sociais mais baixas, onde prevalecem a pobreza e a exclusão social e predominam casos de insucesso e abandono escolar, e em casos mais críticos a marginalização, existe a necessidade de uma intervenção mais atempada, por parte das políticas educativas.


A baixa escolarização da população portuguesa tem sido um tema predominante nos dias de hoje e deve merecer uma melhor atenção do governo português.


A Fundação Volkswagen apoia financeiramente jovens carenciados, em vários países, na obtenção da escolaridade obrigatória e de uma qualificação profissional. Em parceria com a ATEC, a fundação desenvolveu um projeto de responsabilidade social que envolveu 100 jovens, oriundos de classes sociais mais desfavorecidas e em risco de abandono escolar.


O presente trabalho dá a conhecer como iniciou este projeto, como se desenvolveu e divulga a direção que cada jovem seguiu, após conclusão do seu percurso de formação profissional.


 1. INTRODUÇÃO


Este trabalho incide sobre a análise do desenvolvimento de um projeto de responsabilidade social, uma iniciativa da Fundação da Volkswagen que se dedica ao apoio de crianças e jovens, socialmente desfavorecidos, que residam em locais próximos das fábricas da Volkswagen.


Apesar do nome, a Fundação Volkswagen não é subsidiária da Volkswagen. É uma fundação independente e privada, sem fins lucrativos, com sede em Hannover. O seu volume de financiamento é de 100 milhões de euros, por ano, sendo considerado o maior investidor privado na área da ciência e uma das maiores fundações deste género na Alemanha.

2. OBJETIVOS DA FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN EM PORTUGAL

Promover a Educação e a Formação Profissional, de modo a melhorar as condições de vida de crianças e jovens, independentemente da origem, ascendência e fé, é o propósito da fundação.

De acordo com Gunnar Killian (2013), presidente da fundação o objetivo principal é “aumentar o seu apoio e a sua responsabilidade social” a países que atravessam dificuldades económicas, como se tem verificado na India, Argentina, Itália, Brasil, México e em Portugal.

3. A ATEC – ACADEMIA DE FORMAÇÃO

Em Portugal existe uma fábrica da Volkswagen, situada em Palmela, designada por Volkswagen Autoeuropa que é uma das principais promotoras da ATEC - Academia de Formação.

A ATEC é uma Associação de Formação para a Indústria que tem como principal objetivo qualificar jovens e adultos para o mercado de trabalho nas áreas técnicas e tecnológicas, reguladas pelo Catálogo Nacional de Qualificações e certificadas pelo IEFP.

O sistema de ensino DUAL é um modelo utilizado na Alemanha e aplicado na ATEC que concilia a componente teórica com a prática em laboratório/oficina e em contexto real de trabalho.

4. SITUAÇÃO ATUAL DO PAÍS FACE AOS JOVENS CARENCIADOS

Tendo em consideração a atual situação económica do país, nomeadamente, a alta taxa de desemprego entre os jovens com baixos níveis de qualificação, a Fundação Volkswagen decidiu disponibilizar 3 milhões de euros e promover um projeto de formação destinado a jovens oriundos de agregados familiares carenciados, de forma a proporcionar-lhes um futuro melhor.

Acresce ainda o fato de o absentismo, o insucesso e abandono escolar serem uma prática cada vez mais comum no nosso país, essencialmente entre jovens provenientes de classes económicas mais fragilizadas e estruturas familiares que desvalorizam o processo de ensino e aprendizagem, fatores que colocam em risco a frequência e conclusão do ensino escolar obrigatório. Muitos destes jovens encontram-se em situação de desemprego e sentem-se “perdidos”, sem um percurso de vida definido.

6. FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A formação profissional surge como uma alternativa ao ensino público, uma vez que desenvolve competências para a obtenção de uma qualificação profissional e consequentemente uma rápida integração no mercado de trabalho, proporcionando ainda a equivalência ao 12.º ano de escolaridade.

Os cursos de Aprendizagem têm uma duração aproximada de três anos e são dirigidos a jovens que possuem o 9.º ano de escolaridade, com idades entre os 15 e os 25 anos, e proporcionam uma dupla certificação. Esta modalidade de formação é a proposta apresentada para estes jovens.

7. PROGRAMA DE PREVENÇÃO AO ABANDONO ESCOLAR E PROMOÇÃO DE UMA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Neste sentido, a Fundação da Volkswagen e a ATEC promoveram um Programa de Prevenção ao Abandono Escolar e Promoção de uma Qualificação Profissional para jovens, residentes na região de Setúbal e Lisboa, que se encontram em situação de risco, denominado por “Tu Importas”.

“Tu Importas” tem como finalidades:

·       Prevenir o abandono escolar, por motivos socioeconómicos e promover a integração social

·       Proporcionar uma qualificação escolar e profissional (dupla certificação)

·       Promover a integração profissional dos jovens

Para a concretização do projeto, a ATEC contou com a cooperação e apoio de diversas organizações públicas e privadas do setor social como, a Cáritas, IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), CAFAP (Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental), EPIS (Associação Empresários pela Inclusão), CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco), Segurança Social e as IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) que trabalham diretamente com as crianças, jovens, famílias e escolas.

De acordo com a Administradora Técnica da ATEC, Sandra Neves (2013), o “Tu Importas” tem como objetivo fundamental “Evitar o abandono escolar e ajudar os jovens carenciados a seguir a via profissionalizante” e nesta perspetiva, promover “uma qualificação e certificação profissional nestes jovens”.

Victor Gil (2013), diretor regional do IEFP de Lisboa e Vale do Tejo, acrescenta ainda que “as principais vítimas do desemprego são os jovens“ e “existe uma oportunidade de eles serem colocados no mercado profissional”.

De igual modo, Gunnar Killian (2013), presidente da Fundação, sublinha que o programa “visa promover a integração profissional destes jovens, combatendo o abandono escolar, alavancando a formação e proporcionando uma qualificação escolar e profissional, em consonância com o modelo de Dupla Certificação comummente praticado na Alemanha”.

Para além da frequência no curso, os jovens selecionados puderam usufruir de apoios sociais, designadamente, de uma bolsa mensal, de acordo com os rendimentos do agregado familiar, do subsídio de transporte e de refeição e material de estudo.

A entrada para o curso exigia uma fase de recrutamento e seleção rigorosa, com a realização de testes psicotécnicos e de uma entrevista que pretendia apurar a vocação e motivação para a frequência de um dos cursos, assim como analisar o percurso académico, o histórico de desistências e averiguar a estrutura e suporte familiar.

A Maria (nome fictício) tem 19 anos e saiu da escola aos 17 anos, quando frequentava o 10º. Ano do ensino público, devido ao divórcio dos seus pais. Vive com a mãe que depende de subsídios do estado. Ambiciosa e com competências de liderança, vê neste projeto a possibilidade de obter uma formação de qualidade.

O Manuel (nome fictício) tem 22 anos e deixou a escola com 17 anos, após o nascimento da sua filha. Conseguiu um emprego sazonal para sustentar a sua família. Deseja terminar a escolaridade obrigatória e aprender uma profissão para sustentar a sua família.

As vagas para os cursos eram limitadas, 100 mais precisamente, para a constituição de cinco turmas, a iniciarem em 2013, nas profissões/áreas de Técnico de Eletrónica, Automação e Comando; Técnico de Manutenção Industrial; Técnico de Informática e Técnico de Mecatrónica Automóvel.

Os cursos tiveram início em Novembro de 2013. As primeiras duas semanas foram dedicadas ao Programa de Integração que consistia nas seguintes temáticas e atividades:

·       Regras de conduta ATEC

·       O que é a Indústria

·       Áreas de atividade na Indústria

·       “O profissional vem à Academia”

·       Visitas a empresas de diferentes setores de atividade

·       Análise sobre a empregabilidade em Portugal

·       Orientação profissional – que profissão escolher?

·       Como gerir eficazmente os apoios sociais atribuídos

·       Programa de estimulação cognitiva

·       Atividades práticas para o desenvolvimento de competências de comunicação, raciocínio e relações interpessoais

·       Trabalho em equipa

·       Teambuilding

Concluído o programa, os jovens começaram a sua formação, com uma equipa de formadores qualificados, sob a orientação do Coordenador de Turma e com o apoio administrativo da Assistente de Formação e o apoio psicossocial de uma Psicóloga.

O programa dos cursos estava dividido em quatro componentes de formação que decorreram durante um período aproximado de três anos:

·       Componente sociocultural (Línguas, Cultura e Comunicação – Cidadania e Sociedade)

·       Componente científica (Ciências Básicas)

·       Componente tecnológica (Tecnologias Específicas)

·       Componente prática (Formação Prática em Contexto de Trabalho)

Periodicamente eram realizadas reuniões de equipa para acompanhar o processo de ensino e aprendizagem dos formandos e delinear planos de ação para a resolução de eventuais problemas.

No decorrer da formação foram identificados alguns problemas, particularmente de absentismo, dificuldade em acompanhar as matérias, diferentes ritmos de aprendizagem, perda de interesse e comportamento. Estas situações eram reportadas de imediato para uma eficaz intervenção.

A intervenção passava, fundamentalmente, pelo apoio psicossocial, pela colaboração das famílias, pela adequação dos espaços e meios de aprendizagem e por planos de recuperação, de acordo com as dificuldades sentidas.

Eram identificadas outro tipo de situações, como problemas de visão de alguns formandos, motivo que impossibilitava o devido acompanhamento da matéria e condição que proporcionou aos formandos consultas de oftalmologia e a aquisição de lentes e armações, bem como, de uma forma geral, o acesso a prestação de cuidados de saúde.

8. RESULTADOS DO PROGRAMA

Com a conclusão dos cursos, em 2017, os jovens seguiram diferentes percursos. De entre os 87 formandos que terminaram com sucesso, 15 formandos tiveram a possibilidade de frequentar um estágio profissional na fábrica da Volkswagen Autoeuropa, 2 formandos apresentaram candidatura para estágio profissional na Volkswagen Autoeuropa, 18 formandos prosseguiram para os cursos de Especialização Tecnológica na ATEC, 2 formandos seguiram o ensino superior, 27 formandos optaram por iniciar a sua atividade laboral, 19 formandos estão em situação de desemprego à procura de emprego, 2 formandos estão em situação de emprego temporário e 2 formandos estão a ponderar sobre o seu futuro.

Para os formandos que prosseguiram o ensino superior e os cursos de Especialização Tecnológica, foi-lhes permitida a continuação do acesso à bolsa de estudo da Fundação Volkswagen.

A fundação alargou ainda o acesso à bolsa de estudo aos formandos dos cursos da Aprendizagem da ATEC que não estavam abrangidos pelo programa. Para esse fim são abertas anualmente 30 candidaturas a formandos que comprovem uma situação financeira do agregado familiar frágil.

Sem dúvida um projeto de sucesso para a maioria destes jovens que tiveram a oportunidade de serem “resgatados” da situação em que se encontravam e de investirem no seu futuro profissional. Uma iniciativa de louvar e um exemplo a seguir.

Uma Educação Inclusiva que não exclua nem marginalize, mas antes que preserve e promova a dignidade, as capacidades e o bem-estar do ser humano (Repensar a Educação, 2016).

“A educação é um direito de todos”

Malala Yousafzai

REFERÊNCIAS
ATEC acolhe formação de jovens carenciados, avaliada em 3 milhões (2013). ATEC Imprensa. Fonte Sem mais Jornal. Recuperado em 30 junho, 2017, em https://www.atec.pt/images/stories/imprensa/2013/ATEC_acolhe_formacao_de_jovens_carenciados_SemMais.pdf
Catálogo Nacional de Qualificações. Para uma oferta relevante e certificada. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.catalogo.anqep.gov.pt/boDocumentos/getDocumentos/136
Formação Profissional para os Jovens. Projecto Portugal. Volkswagen Belegschaftsstiftung. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.volkswagen-belegschaftsstiftung.de/index.php?id=31
Jovens carenciados recebem formação na ATEC em Palmela (2013). ADN - Agência de Notícias. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.adn-agenciadenoticias.com/2013/10/jovens-carenciados-recebem-formacao-na.html
Perfil dos alunos à saída da Escolaridade Obrigatória. Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho, criado nos termos do Despacho n.º 9311/2016, de 21 de julho. Acedido em 30 junho, 2017, em http://dge.mec.pt/sites/default/files/Noticias_Imagens/perfil_do_aluno.pdf
Regulamento Específico dos cursos de Aprendizagem. Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos. Direção Regional de Qualificação Profissional Direção de Serviços de Regulação e Controlo Financeiro. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.drfp.pt/empresasentidades/homologarcursos/comorenovarahomologacao/Formulrios/Reg_Esp_Cursos_Aprend_2014_R2.pdf
Repensar a Educação (2016). Rumo a um bem comum mundial? Edições Unesco. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Uma opção para agregados com carências (2013). ATEC Imprensa. Fonte Vida Económica. Recuperado em 30 junho, 2017, em https://www.atec.pt/images/stories/imprensa/2013/Uma_opcao_para_agregados_com_carencias_VidaEconomica.pdf
 
 
 


domingo, 21 de janeiro de 2018

Cenários prospetivos de integração das Tecnologias na Formação Profissional para os Jovens dos cursos da Aprendizagem


Vivemos numa sociedade da informação e do conhecimento onde a evolução das Tecnologias ganha um especial destaque no campo da formação profissional para jovens, designadamente nos cursos de Aprendizagem.
A formação profissional promove um sistema de aprendizagem dual que concilia a formação teórica e prática em sala de aula, com a prática em contexto de trabalho.
Os objetivos e conteúdos utilizados neste sistema de aprendizagem desenvolvem nos formandos, um conjunto de conhecimentos pessoais e sociais e de competências técnicas e científicas, relevantes para o exercício de diversificados percursos profissionais.
No entanto, devido à rápida evolução das Tecnologias, torna-se necessário adaptar as metodologias pedagógicas mais tradicionais, que se vão tornando obsoletas e pouco dinâmicas, a metodologias mais inovadoras num contexto presente, o da era digital.
O desafio que se coloca às entidades formativas é o de refletirem sobre a transformação do ensino profissional, designadamente, sobre os métodos pedagógicos utilizados, as novas formas e estratégias de transmitir o conhecimento, que possam dar resposta às exigências de uma sociedade da informação e de uma população jovem, muito familiarizada com a internet, designada por Geração Z, de modo a garantir o seu sucesso educativo.
O artigo pretende dar a conhecer alguns projetos pedagógicos da European Schoolnet e Microsoft, e analisar de que forma as Tecnologias poderão contribuir na aplicação de novas metodologias de trabalho para os formadores, mais envolventes para os formandos e facilitadoras no processo de ensino e aprendizagem.
Os cursos profissionais de Aprendizagem apresentam um plano curricular constituído por quatro componentes de formação: Sociocultural, Científica, Tecnológica e Prática em Contexto de Trabalho. As metodologias pedagógicas assentam em métodos expositivos, ativos, demonstrativos e interrogativos, aplicados em sala de aula, laboratório ou oficina.
Apesar de serem bastante diversificados e adaptáveis às práticas teóricas, oficinais e laboratoriais, estes métodos estão-se a tornar arcaicos, na transmissão do conhecimento e na aquisição de um conjunto de saberes e competências, para os jovens que viajam diariamente pelo ciberespaço, onde consomem e produzem o conhecimento de uma forma totalmente diferente ao formato de sala de aula.
Por outro lado, os formadores queixam-se frequentemente do desinteresse e desmotivação dos formandos, assim como dos fracos resultados.
Integrar as tecnologias na prática formativa pode melhorar significativamente o processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente o interesse e motivação dos formandos e os resultados esperados.
Neste sentido, é importante destacar o trabalho desenvolvido pela European Schoonet, uma organização sem fins lucrativos, sedeada em Bruxelas, que tem como objetivo principal apoiar e contribuir para a promoção da inovação no ensino e na aprendizagem das escolas europeias, utilizando as Tecnologias, em parceria com os ministérios da educação, escolas, professores/formadores e investigadores (Laboratórios de Aprendizagem – Direção-Geral da Educação).


Sala de Aula do Futuro

A Sala de Aula do Futuro (Future Classroom Lab) é um projecto criado pela European Schoolnet. Trata-se de um ambiente de aprendizagem que promove práticas pedagógicas inovadoras e avançadas, recorrendo às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) (Laboratórios de Aprendizagem – Direção-Geral da Educação).
A Sala de Aula do Futuro é constituída por seis espaços de aprendizagem diferentes, conforme ilustra a figura 1, que privilegiam a ação do formando, favorecendo a sua motivação, a criatividade e o seu envolvimento na construção individual e coletiva do conhecimento (Laboratórios de Aprendizagem – Direção-Geral da Educação).

O documento “Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória” destaca um conjunto de competências que o aluno/formando do século XXI deve possuir e que vão ao encontro dos objetivos deste projeto. Competências são combinações complexas de conhecimentos, capacidade e atitudes, entre as quais são destacadas, a informação e comunicação, o raciocínio e a resolução de problemas, o pensamento crítico e criativo, o saber científico, técnico e tecnológico, o desenvolvimento pessoal e a autonomia (Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória, 2017).

Figura 1 (Sala de Aula do Futuro)


A Sala de Aula do Futuro proporciona espaços de aprendizagens diferentes, onde são destacadas áreas específicas (Future Classroom Lab):

Espaço para Criar – Neste espaço, os formandos são convidados a planificar, projetar e produzir o seu próprio trabalho. Os formandos trabalham em atividades reais de construção do conhecimento, onde são valorizadas as tarefas de interpretação, análise, trabalho em equipa e avaliação. A imaginação e a inovação ganham um especial destaque neste processo criativo.

Os equipamentos e tecnologias a utilizar podem ser os seguintes: Câmara de Vídeo de alta definição, câmara digital de bolso, software de edição de vídeo, equipamentos de gravação de áudio; software podcast, software de animação e streaming software.

Espaço para Interagir – Um espaço onde o formador pode utilizar a tecnologia para aumentar a interatividade e a participação dos formandos, e reorganizar o espaço físico da sala de aula, nomeadamente na forma como os formandos estão sentados, experimentando diferentes configurações, em forma de ferradura (U) ou em pequenos grupos, por exemplo. Ao utilizarem os seus próprios dispositivos móveis, todos os formandos se sentem envolvidos e podem contribuir nas tarefas propostas.
 
Os equipamentos e tecnologias a utilizar podem ser os seguintes: Quadros interativos; sistemas de perguntas e respostas; dispositivos mobile learning (laptop, netbook, tablet, smartphones); conteúdo OER para IWB; sistema de gestão da sala de aula.

Espaço para Apresentar – Este espaço é dedicado às apresentações onde os formandos podem desenvolver um conjunto de habilidades, como utilizar diversificadas ferramentas para criar, partilhar, receber feedback e publicar as suas produções ou resultados. A apresentação de um trabalho deve ter em conta os conteúdos das sessões e ter uma dimensão comunicativa para que os formandos possam partilhar com os seus colegas.

Os equipamentos e tecnologias a utilizar podem ser os seguintes: área com mobiliário reconfigurável, projetor/tela HD, ferramentas de publicação online (blogue, VLE, sites de partilha online).

Espaço para Investigar – Os formadores podem promover neste espaço uma aprendizagem baseada na investigação onde os formandos se podem tornar em pesquisadores ativos na procura da informação, através da leitura, observação, realização de experiências científicas, organização de pesquisas, e do uso de robôs. Ao investigarem, os formandos desenvolvem habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas.

Os equipamentos e tecnologias a utilizar podem ser os seguintes: Robôs; sensores; sistemas de recolha de dados; calculadoras gráficas; laboratórios online; modelos 3D.

Espaço para Partilhar – Aprender a partilhar e colaborar com os colegas, de uma forma síncrona e assíncrona, são as principais funções deste espaço. Os formandos desenvolvem habilidades de comunicação e de trabalho em equipa. Um bom exemplo poderá ser a partilha do conhecimento dos formandos mais velhos para com os mais novos. Os jogos e simulações digitais podem ser introduzidos neste espaço, uma vez que tornam a aprendizagem mais atraente para os formandos.

Os equipamentos e tecnologias a utilizar podem ser os seguintes: Quadros interativos, Mesa Collaborative com projetor, Software de mapeamento mental, Placa Brainstorming/Parede.

Espaço para Desenvolver – Espaço que proporciona um ambiente mais relaxado, não monitorizado, para uma aprendizagem informal, onde os formandos podem realizar trabalhos e concentrarem-se nos seus próprios interesses, de uma forma independente, ao seu próprio ritmo, utilizando dispositivos pessoais, como o netbooks ou tablets, ou disponíveis na sala. Uma aprendizagem autodirigida que desenvolve nos formandos habilidades de autorreflexão e metacognição.

Os equipamentos e tecnologias a utilizar podem ser os seguintes: Móveis informais; cantos de estudo; dispositivos portáteis; dispositivos de áudio e audiofones; livros e e-books; jogos (analógico e digital).


STEM School Label

O STEM School Label é igualmente um projeto criado pela European Schoolnet que tem como propósito orientar as escolas a estimularem o interesse e a habilidade dos formandos para as áreas STEM (Science, Technology, Engineering, and Mathematics).
O ensino da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática assume uma função fundamental, como resposta à concorrência da economia do século XXI que se tornou global.
A educação e formação STEM vem, deste modo, eliminar as barreiras tradicionais e fortalecer a inovação do ensino, especificamente, apresentando soluções para problemas complexos, com o uso das ferramentas e tecnologias atuais (Kennedy & Odell, 2014).
Preparar os formandos para as competências do aluno/formando do século XXI é a principal meta do modelo de ensino STEM, destacando o desenvolvimento de habilidades no formando, como o raciocínio criativo e critico na resolução de problemas.
O ensino STEM aposta em ambientes de aprendizagem ativos (figura 2), com atividades hands-on, com recurso a sensores e aplicações de aquisição e análise de dados, minds-on, relacionadas com situações complexas, imaginárias ou da vida real e hearts-on, com recurso a questões relevantes para os formandos.
Os formadores recorrem a pedagogias baseadas em investigação (Handelsman et al., 2004; Rocard et al., 2007, citado por Fernandes & Teodoro, 2014), por sua vez, os formandos discutem, explicam e testam as suas ideias, ensinando-se mutuamente e colaborando na resolução de problemas (Fernandes & Teodoro, 2014).
A utilização das tecnologias está bem presente, uma vez que facilitam a realização das atividades, como os projetores de curto alcance portáteis, sistemas portáteis de quadro interativo, adaptadores para projeção sem fios, tablets, computadores, visualizadores sem fios e as aplicações para organização de informação e escrita digital (Fernandes & Teodoro, 2014).
O College of Biological Sciences da University of Minnesota, utiliza a sala de aula de aprendizagem ativa para preparar os alunos a pensarem como cientistas, encontrarem soluções para problemas reais e trabalharem em equipa para uma experiência de pesquisa real. O vídeo “Active Learning Classrooms” demonstra esta realidade, acessível em https://www.youtube.com/watch?v=dWjyzT99AWo


Figura 2 (Active Learning Classrooms)

A Microsoft proporciona experiências imersivas e inclusivas para a obtenção de melhores resultados no processo de ensino e aprendizagem (Microsoft).
 
Micro:Bit
 
O Micro:Bit (ilustrado na figura 3) é um pequeno computador de código de bolso, criado pela BBC e Microsoft. Possui deteção de movimento, mede 4 cm por 5 cm, tem tecnologia Bluetooth e um software programável de fácil utilização, acessível em microbit.org.
O equipamento tem como objetivo inspirar os jovens a serem criativos no mundo digital e a desenvolverem os seus próprios projetos.


Figura 3 (Placa Micro:Bit)
As funcionalidades do Micro:Bit são imensas e podem ser aplicadas em diversos projetos. O Micro:Bit possui os seguintes recursos: processador ARM Cortex M-O; 25 luzes LED vermelhas que podem piscar mensagens; Dois botões programáveis ​​(A e B) que podem ser usados ​​para dizer ao Micro:Bit quando começar e quando parar; Um termístor para medir a temperatura; Um sensor de luz para medir a mudança de luz; Um acelerómetro para detetar o movimento; Um magnetómetro para detetar a direção; Um rádio e uma conexão Bluetooth Low Energy para interagir com outro dispositivo (Micro:bit).
Um exemplo de um projeto Micro:Bit está representado na figura 4, desenvolvido pelos formandos dos cursos de Aprendizagem da ATEC – Academia de Formação.


Figura 4 (Projeto Micro:Bit)

Minecraft: Education Edition
O Minecraft: Education Edition (figura 5), desenvolvido pela Microsoft Studios e Mojang, é um jogo eletrónico, especificamente projetado para o uso em sala de aula. Pode ser utilizado para promover habilidades nos formandos, como a criatividade, colaboração, resolução de problemas e o pensamento crítico, essenciais para a aprendizagem STEM (Science, Technology, Engineering, and Mathematics).


Figura 5 (Minecraft: Education Edition)
O Minecraft é um jogo bastante apreciado pelos jovens e consiste na destruição e construção de blocos. Uma ferramenta educativa que, proporciona uma aprendizagem imersiva e permite ao formador criar um único ambiente e colocar todos os formandos no mesmo “cenário” dentro do jogo para trabalharem em colaboração. O formador pode estabelecer restrições, em relação ao que os formandos conseguem ou não fazer no ambiente, como por exemplo, impossibilitar que um formando destrua blocos criados por outro colega.
Uma nova funcionalidade, recentemente adicionada a esta versão do jogo, é designada por Criador de Códigos. Esta nova funcionalidade possibilita aos formadores e formandos escreverem códigos com o objetivo de explorarem, criarem e aprenderem no mundo de Minecraft (MSN Notícias).
O jogo Minecraft apresenta as seguintes caraterísticas: Neste jogo não existem regras, a exploração é livre; O jogo não tem fim, o limite é a criatividade; Não existe competição, é a colaboração que impera; As habilidades do século XXI estão no jogo; A arte de aprender e ensinar está sempre presente; Liga o mundo virtual ao real; O jogador sente o sabor da superação; São infinitas as possibilidades e o melhor é solucionar desafios (Bigbrain Education).
A utilização das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, especificamente, nos cursos de Aprendizagem, proporciona novas formas de ensinar e representa uma verdadeira transformação nas práticas educacionais e na aquisição do conhecimento.
Moran (2000), educador e pesquisador de projetos de inovação, no Brasil, defende que,
“Cada organização precisa encontrar sua entidade educacional, suas caraterísticas específicas, o seu papel. Um projeto inovador facilita as mudanças organizacionais e pessoais, estimula a criatividade, propicia maiores transformações. (…) Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve também a mantermos no nível organizacional e interpessoal, formas de gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças na educação. Equilibrar o planejamento institucional e o pessoal nas organizações educacionais. Planejamento flexível e criatividade sinergética. Equilíbrio entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade, de criatividade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez)”.
Os formadores têm ao dispor um conjunto de recursos tecnológicos que podem utilizar para motivarem os formandos e inverterem a forma de ensinar.
Compete aos líderes, professores e agentes educativos repensar no processo de ensino e aprendizagem e transformar as aulas em aprendizagens cooperativas e significativas.
“O foco da aprendizagem é a busca da informação significativa, da pesquisa, o desenvolvimento de projetos e não predominantemente a transmissão de conteúdos específicos” (Moran, 2007).
O formador de hoje já não desempenha o papel central, na função de transmissão do conhecimento, ele centra o processo educativo no formando, direcionando-o, orientando-o e motivando-o numa aprendizagem interativa e cooperativa.
Neste processo de aprendizagem, o formando pesquisa, reflete e critica a informação, construindo desta forma o seu conhecimento. Comunica e partilha ideias com o formador e os colegas, aprende com a descoberta e resolve problemas.
“Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigação” (…) “Ensinar e aprender são os desafios maiores que enfrentamos em todas as épocas e particularmente agora em que estamos pressionados pela transição do modelo de gestão industrial para o da informação e do conhecimento” (Moran, 2000).

Referências bibliográficas
Ambientes de Aprendizagem Activa para a Educação STEM — Algumas Tendências no Uso de Tecnologias (PDF Download Available). Recuperado em 09 Janeiro, 2018, de https://www.researchgate.net/publication/281437250_Ambientes_de_Aprendizagem_Activa_para_a_Educacao_STEM_-_Algumas_Tendencias_no_Uso_de_Tecnologias
Como o Minecraft para educação pode ajudar professores a transformar o ensino (2017). MSS Notícias. Recuperado em 09 Janeiro, 2018, de https://www.msn.com/pt-br/noticias/microsoft/como-o-minecraft-para-educa%C3%A7%C3%A3o-pode-ajudar-professores-a-transformar-o-ensino/ar-BBAZBSh?li=BBzNR9H
Cursos de Aprendizagem. Regulamento Específico 2016. IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional). Recuperado em 09 Janeiro, 2018, de https://www.iefp.pt/documents/10181/6488057/RE_APZ_2016_Regulamento_especifico.pdf/d5495537-ab51-43a7-bfb1-b84f7a1fa588
Diniz, S. (2001). O uso das novas tecnologias em sala de aula. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Recuperado em 09 Janeiro, 2018, de http://www.pucrs.br/ciencias/viali/doutorado/ptic/aulas/aula_2/187071.pdf
Moran, J. (2000). Ensino e Aprendizagem inovadores com Tecnologias. Recuperado em 09 Janeiro, 2018, de http://www.seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/6474/3862
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Kennedy, T. & Odell, M. (2014). Engaging Students in STEM Education. Recuperado em 09 Janeiro, 2018, de https://eric.ed.gov/?id=EJ1044508
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