RESUMO
A Educação e
Formação desempenham uma função essencial no desenvolvimento dos jovens, uma
vez que os habilita com conhecimentos, capacidades e atitudes para o exercício
de uma cidadania ativa e de uma profissão que os torne em seres pensantes,
críticos e autónomos.
A atual
situação económica do país compromete seriamente o futuro das novas gerações,
devido às taxas de desemprego, aos empregos precários e à exigência da
escolaridade obrigatória ou de mão-de-obra qualificada.
Nas classes
sociais mais baixas, onde prevalecem a pobreza e a exclusão social e predominam
casos de insucesso e abandono escolar, e em casos mais críticos a
marginalização, existe a necessidade de uma intervenção mais atempada, por
parte das políticas educativas.
A baixa
escolarização da população portuguesa tem sido um tema predominante nos dias de
hoje e deve merecer uma melhor atenção do governo português.
A Fundação
Volkswagen apoia financeiramente jovens carenciados, em vários países, na
obtenção da escolaridade obrigatória e de uma qualificação profissional. Em
parceria com a ATEC, a fundação desenvolveu um projeto de responsabilidade
social que envolveu 100 jovens, oriundos de classes sociais mais desfavorecidas
e em risco de abandono escolar.
O presente
trabalho dá a conhecer como iniciou este projeto, como se desenvolveu e divulga
a direção que cada jovem seguiu, após conclusão do seu percurso de formação
profissional.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho incide sobre a análise do desenvolvimento de um projeto de
responsabilidade social, uma iniciativa da Fundação da Volkswagen que se dedica
ao apoio de crianças e jovens, socialmente desfavorecidos, que residam em
locais próximos das fábricas da Volkswagen.
Apesar do
nome, a Fundação Volkswagen não é subsidiária da Volkswagen. É uma fundação
independente e privada, sem fins lucrativos, com sede em Hannover. O seu volume
de financiamento é de 100 milhões de euros, por ano, sendo considerado o maior
investidor privado na área da ciência e uma das maiores fundações deste género
na Alemanha.
2. OBJETIVOS DA FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN EM PORTUGAL
Promover a
Educação e a Formação Profissional, de modo a melhorar as condições de vida de
crianças e jovens, independentemente da origem, ascendência e fé, é o propósito
da fundação.
De acordo com
Gunnar Killian (2013), presidente da fundação o objetivo principal é “aumentar
o seu apoio e a sua responsabilidade social” a países que atravessam
dificuldades económicas, como se tem verificado na India, Argentina, Itália,
Brasil, México e em Portugal.
3. A ATEC – ACADEMIA DE FORMAÇÃO
Em Portugal
existe uma fábrica da Volkswagen, situada em Palmela, designada por Volkswagen
Autoeuropa que é uma das principais promotoras da ATEC - Academia de Formação.
A ATEC é uma
Associação de Formação para a Indústria que tem como principal objetivo
qualificar jovens e adultos para o mercado de trabalho nas áreas técnicas e
tecnológicas, reguladas pelo Catálogo Nacional de Qualificações e certificadas
pelo IEFP.
O sistema de
ensino DUAL é um modelo utilizado na Alemanha e aplicado na ATEC que concilia a
componente teórica com a prática em laboratório/oficina e em contexto real de
trabalho.
4. SITUAÇÃO ATUAL DO PAÍS FACE AOS JOVENS CARENCIADOS
Tendo em
consideração a atual situação económica do país, nomeadamente, a alta taxa de
desemprego entre os jovens com baixos níveis de qualificação, a Fundação
Volkswagen decidiu disponibilizar 3 milhões de euros e promover um projeto de
formação destinado a jovens oriundos de agregados familiares carenciados, de
forma a proporcionar-lhes um futuro melhor.
Acresce ainda
o fato de o absentismo, o insucesso e abandono escolar serem uma prática cada
vez mais comum no nosso país, essencialmente entre jovens provenientes de
classes económicas mais fragilizadas e estruturas familiares que desvalorizam o
processo de ensino e aprendizagem, fatores que colocam em risco a frequência e
conclusão do ensino escolar obrigatório. Muitos destes jovens encontram-se em
situação de desemprego e sentem-se “perdidos”, sem um percurso de vida
definido.
6. FORMAÇÃO PROFISSIONAL
A formação
profissional surge como uma alternativa ao ensino público, uma vez que
desenvolve competências para a obtenção de uma qualificação profissional e
consequentemente uma rápida integração no mercado de trabalho, proporcionando
ainda a equivalência ao 12.º ano de escolaridade.
Os cursos de
Aprendizagem têm uma duração aproximada de três anos e são dirigidos a jovens
que possuem o 9.º ano de escolaridade, com idades entre os 15 e os 25 anos, e
proporcionam uma dupla certificação. Esta modalidade de formação é a proposta apresentada
para estes jovens.
7. PROGRAMA DE PREVENÇÃO AO ABANDONO ESCOLAR E PROMOÇÃO DE
UMA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Neste
sentido, a Fundação da Volkswagen e a ATEC promoveram um Programa de Prevenção
ao Abandono Escolar e Promoção de uma Qualificação Profissional para jovens,
residentes na região de Setúbal e Lisboa, que se encontram em situação de
risco, denominado por “Tu Importas”.
“Tu Importas”
tem como finalidades:
·
Prevenir o abandono escolar,
por motivos socioeconómicos e promover a integração social
·
Proporcionar uma qualificação
escolar e profissional (dupla certificação)
·
Promover a integração
profissional dos jovens
Para a
concretização do projeto, a ATEC contou com a cooperação e apoio de diversas
organizações públicas e privadas do setor social como, a Cáritas, IEFP
(Instituto de Emprego e Formação Profissional), CAFAP (Centro de Apoio Familiar
e Aconselhamento Parental), EPIS (Associação Empresários pela Inclusão), CPCJ
(Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco), Segurança Social e as
IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) que trabalham
diretamente com as crianças, jovens, famílias e escolas.
De acordo com
a Administradora Técnica da ATEC, Sandra Neves (2013), o “Tu Importas” tem como
objetivo fundamental “Evitar o abandono escolar e ajudar os jovens carenciados
a seguir a via profissionalizante” e nesta perspetiva, promover “uma
qualificação e certificação profissional nestes jovens”.
Victor Gil
(2013), diretor regional do IEFP de Lisboa e Vale do Tejo, acrescenta ainda que
“as principais vítimas do desemprego são os jovens“ e “existe uma oportunidade
de eles serem colocados no mercado profissional”.
De igual
modo, Gunnar Killian (2013), presidente da Fundação, sublinha que o programa “visa
promover a integração profissional destes jovens, combatendo o abandono
escolar, alavancando a formação e proporcionando uma qualificação escolar e
profissional, em consonância com o modelo de Dupla Certificação comummente
praticado na Alemanha”.
Para além da
frequência no curso, os jovens selecionados puderam usufruir de apoios sociais,
designadamente, de uma bolsa mensal, de acordo com os rendimentos do agregado
familiar, do subsídio de transporte e de refeição e material de estudo.
A entrada
para o curso exigia uma fase de recrutamento e seleção rigorosa, com a
realização de testes psicotécnicos e de uma entrevista que pretendia apurar a
vocação e motivação para a frequência de um dos cursos, assim como analisar o
percurso académico, o histórico de desistências e averiguar a estrutura e
suporte familiar.
A Maria (nome
fictício) tem 19 anos e saiu da escola aos 17 anos, quando frequentava o 10º.
Ano do ensino público, devido ao divórcio dos seus pais. Vive com a mãe que
depende de subsídios do estado. Ambiciosa e com competências de liderança, vê
neste projeto a possibilidade de obter uma formação de qualidade.
O Manuel
(nome fictício) tem 22 anos e deixou a escola com 17 anos, após o nascimento da
sua filha. Conseguiu um emprego sazonal para sustentar a sua família. Deseja
terminar a escolaridade obrigatória e aprender uma profissão para sustentar a
sua família.
As vagas para
os cursos eram limitadas, 100 mais precisamente, para a constituição de cinco
turmas, a iniciarem em 2013, nas profissões/áreas de Técnico de Eletrónica,
Automação e Comando; Técnico de Manutenção Industrial; Técnico de Informática e
Técnico de Mecatrónica Automóvel.
Os cursos
tiveram início em Novembro de 2013. As primeiras duas semanas foram dedicadas
ao Programa de Integração que consistia nas seguintes temáticas e atividades:
·
Regras de conduta ATEC
·
O que é a Indústria
·
Áreas de atividade na
Indústria
·
“O profissional vem à
Academia”
·
Visitas a empresas de
diferentes setores de atividade
·
Análise sobre a
empregabilidade em Portugal
·
Orientação profissional – que
profissão escolher?
·
Como gerir eficazmente os
apoios sociais atribuídos
·
Programa de estimulação
cognitiva
·
Atividades práticas para o
desenvolvimento de competências de comunicação, raciocínio e relações
interpessoais
·
Trabalho em equipa
·
Teambuilding
Concluído o
programa, os jovens começaram a sua formação, com uma equipa de formadores
qualificados, sob a orientação do Coordenador de Turma e com o apoio administrativo
da Assistente de Formação e o apoio psicossocial de uma Psicóloga.
O programa
dos cursos estava dividido em quatro componentes de formação que decorreram
durante um período aproximado de três anos:
·
Componente sociocultural
(Línguas, Cultura e Comunicação – Cidadania e Sociedade)
·
Componente científica
(Ciências Básicas)
·
Componente tecnológica
(Tecnologias Específicas)
·
Componente prática (Formação
Prática em Contexto de Trabalho)
Periodicamente
eram realizadas reuniões de equipa para acompanhar o processo de ensino e
aprendizagem dos formandos e delinear planos de ação para a resolução de
eventuais problemas.
No decorrer
da formação foram identificados alguns problemas, particularmente de
absentismo, dificuldade em acompanhar as matérias, diferentes ritmos de
aprendizagem, perda de interesse e comportamento. Estas situações eram
reportadas de imediato para uma eficaz intervenção.
A intervenção
passava, fundamentalmente, pelo apoio psicossocial, pela colaboração das
famílias, pela adequação dos espaços e meios de aprendizagem e por planos de
recuperação, de acordo com as dificuldades sentidas.
Eram
identificadas outro tipo de situações, como problemas de visão de alguns
formandos, motivo que impossibilitava o devido acompanhamento da matéria e
condição que proporcionou aos formandos consultas de oftalmologia e a aquisição
de lentes e armações, bem como, de uma forma geral, o acesso a prestação de
cuidados de saúde.
8. RESULTADOS DO PROGRAMA
Com a
conclusão dos cursos, em 2017, os jovens seguiram diferentes percursos. De
entre os 87 formandos que terminaram com sucesso, 15 formandos tiveram a
possibilidade de frequentar um estágio profissional na fábrica da Volkswagen
Autoeuropa, 2 formandos apresentaram candidatura para estágio profissional na
Volkswagen Autoeuropa, 18 formandos prosseguiram para os cursos de
Especialização Tecnológica na ATEC, 2 formandos seguiram o ensino superior, 27
formandos optaram por iniciar a sua atividade laboral, 19 formandos estão em
situação de desemprego à procura de emprego, 2 formandos estão em situação de
emprego temporário e 2 formandos estão a ponderar sobre o seu futuro.
Para os
formandos que prosseguiram o ensino superior e os cursos de Especialização
Tecnológica, foi-lhes permitida a continuação do acesso à bolsa de estudo da
Fundação Volkswagen.
A fundação
alargou ainda o acesso à bolsa de estudo aos formandos dos cursos da
Aprendizagem da ATEC que não estavam abrangidos pelo programa. Para esse fim
são abertas anualmente 30 candidaturas a formandos que comprovem uma situação
financeira do agregado familiar frágil.
Sem dúvida um
projeto de sucesso para a maioria destes jovens que tiveram a oportunidade de
serem “resgatados” da situação em que se encontravam e de investirem no seu
futuro profissional. Uma iniciativa de louvar e um exemplo a seguir.
Uma Educação
Inclusiva que não exclua nem marginalize, mas antes que preserve e promova a
dignidade, as capacidades e o bem-estar do ser humano (Repensar a Educação,
2016).
“A educação é um direito de todos”
Malala
Yousafzai
REFERÊNCIAS
ATEC acolhe formação de
jovens carenciados, avaliada em 3 milhões (2013). ATEC Imprensa. Fonte Sem mais
Jornal. Recuperado em 30 junho, 2017, em
https://www.atec.pt/images/stories/imprensa/2013/ATEC_acolhe_formacao_de_jovens_carenciados_SemMais.pdf
Catálogo Nacional de
Qualificações. Para uma oferta relevante e certificada. Recuperado em 30 junho,
2017, em http://www.catalogo.anqep.gov.pt/boDocumentos/getDocumentos/136
Formação Profissional
para os Jovens. Projecto Portugal. Volkswagen Belegschaftsstiftung. Recuperado
em 30 junho, 2017, em
http://www.volkswagen-belegschaftsstiftung.de/index.php?id=31
Jovens carenciados
recebem formação na ATEC em Palmela (2013). ADN - Agência de Notícias.
Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.adn-agenciadenoticias.com/2013/10/jovens-carenciados-recebem-formacao-na.html
Perfil dos alunos à saída
da Escolaridade Obrigatória. Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho, criado
nos termos do Despacho n.º 9311/2016, de 21 de julho. Acedido em 30 junho,
2017, em http://dge.mec.pt/sites/default/files/Noticias_Imagens/perfil_do_aluno.pdf
Regulamento Específico
dos cursos de Aprendizagem. Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos.
Direção Regional de Qualificação Profissional Direção de Serviços de Regulação
e Controlo Financeiro. Recuperado em 30 junho, 2017, em
http://www.drfp.pt/empresasentidades/homologarcursos/comorenovarahomologacao/Formulrios/Reg_Esp_Cursos_Aprend_2014_R2.pdf
Repensar a Educação
(2016). Rumo a um bem comum mundial? Edições Unesco. Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Uma
opção para agregados com carências (2013). ATEC Imprensa. Fonte Vida Económica.
Recuperado em 30 junho, 2017, em https://www.atec.pt/images/stories/imprensa/2013/Uma_opcao_para_agregados_com_carencias_VidaEconomica.pdf
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