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quinta-feira, 3 de maio de 2018

“Tu Importas” Projeto de Responsabilidade Social da Fundação Volkswagen



 RESUMO


A Educação e Formação desempenham uma função essencial no desenvolvimento dos jovens, uma vez que os habilita com conhecimentos, capacidades e atitudes para o exercício de uma cidadania ativa e de uma profissão que os torne em seres pensantes, críticos e autónomos.


A atual situação económica do país compromete seriamente o futuro das novas gerações, devido às taxas de desemprego, aos empregos precários e à exigência da escolaridade obrigatória ou de mão-de-obra qualificada.


Nas classes sociais mais baixas, onde prevalecem a pobreza e a exclusão social e predominam casos de insucesso e abandono escolar, e em casos mais críticos a marginalização, existe a necessidade de uma intervenção mais atempada, por parte das políticas educativas.


A baixa escolarização da população portuguesa tem sido um tema predominante nos dias de hoje e deve merecer uma melhor atenção do governo português.


A Fundação Volkswagen apoia financeiramente jovens carenciados, em vários países, na obtenção da escolaridade obrigatória e de uma qualificação profissional. Em parceria com a ATEC, a fundação desenvolveu um projeto de responsabilidade social que envolveu 100 jovens, oriundos de classes sociais mais desfavorecidas e em risco de abandono escolar.


O presente trabalho dá a conhecer como iniciou este projeto, como se desenvolveu e divulga a direção que cada jovem seguiu, após conclusão do seu percurso de formação profissional.


 1. INTRODUÇÃO


Este trabalho incide sobre a análise do desenvolvimento de um projeto de responsabilidade social, uma iniciativa da Fundação da Volkswagen que se dedica ao apoio de crianças e jovens, socialmente desfavorecidos, que residam em locais próximos das fábricas da Volkswagen.


Apesar do nome, a Fundação Volkswagen não é subsidiária da Volkswagen. É uma fundação independente e privada, sem fins lucrativos, com sede em Hannover. O seu volume de financiamento é de 100 milhões de euros, por ano, sendo considerado o maior investidor privado na área da ciência e uma das maiores fundações deste género na Alemanha.

2. OBJETIVOS DA FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN EM PORTUGAL

Promover a Educação e a Formação Profissional, de modo a melhorar as condições de vida de crianças e jovens, independentemente da origem, ascendência e fé, é o propósito da fundação.

De acordo com Gunnar Killian (2013), presidente da fundação o objetivo principal é “aumentar o seu apoio e a sua responsabilidade social” a países que atravessam dificuldades económicas, como se tem verificado na India, Argentina, Itália, Brasil, México e em Portugal.

3. A ATEC – ACADEMIA DE FORMAÇÃO

Em Portugal existe uma fábrica da Volkswagen, situada em Palmela, designada por Volkswagen Autoeuropa que é uma das principais promotoras da ATEC - Academia de Formação.

A ATEC é uma Associação de Formação para a Indústria que tem como principal objetivo qualificar jovens e adultos para o mercado de trabalho nas áreas técnicas e tecnológicas, reguladas pelo Catálogo Nacional de Qualificações e certificadas pelo IEFP.

O sistema de ensino DUAL é um modelo utilizado na Alemanha e aplicado na ATEC que concilia a componente teórica com a prática em laboratório/oficina e em contexto real de trabalho.

4. SITUAÇÃO ATUAL DO PAÍS FACE AOS JOVENS CARENCIADOS

Tendo em consideração a atual situação económica do país, nomeadamente, a alta taxa de desemprego entre os jovens com baixos níveis de qualificação, a Fundação Volkswagen decidiu disponibilizar 3 milhões de euros e promover um projeto de formação destinado a jovens oriundos de agregados familiares carenciados, de forma a proporcionar-lhes um futuro melhor.

Acresce ainda o fato de o absentismo, o insucesso e abandono escolar serem uma prática cada vez mais comum no nosso país, essencialmente entre jovens provenientes de classes económicas mais fragilizadas e estruturas familiares que desvalorizam o processo de ensino e aprendizagem, fatores que colocam em risco a frequência e conclusão do ensino escolar obrigatório. Muitos destes jovens encontram-se em situação de desemprego e sentem-se “perdidos”, sem um percurso de vida definido.

6. FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A formação profissional surge como uma alternativa ao ensino público, uma vez que desenvolve competências para a obtenção de uma qualificação profissional e consequentemente uma rápida integração no mercado de trabalho, proporcionando ainda a equivalência ao 12.º ano de escolaridade.

Os cursos de Aprendizagem têm uma duração aproximada de três anos e são dirigidos a jovens que possuem o 9.º ano de escolaridade, com idades entre os 15 e os 25 anos, e proporcionam uma dupla certificação. Esta modalidade de formação é a proposta apresentada para estes jovens.

7. PROGRAMA DE PREVENÇÃO AO ABANDONO ESCOLAR E PROMOÇÃO DE UMA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Neste sentido, a Fundação da Volkswagen e a ATEC promoveram um Programa de Prevenção ao Abandono Escolar e Promoção de uma Qualificação Profissional para jovens, residentes na região de Setúbal e Lisboa, que se encontram em situação de risco, denominado por “Tu Importas”.

“Tu Importas” tem como finalidades:

·       Prevenir o abandono escolar, por motivos socioeconómicos e promover a integração social

·       Proporcionar uma qualificação escolar e profissional (dupla certificação)

·       Promover a integração profissional dos jovens

Para a concretização do projeto, a ATEC contou com a cooperação e apoio de diversas organizações públicas e privadas do setor social como, a Cáritas, IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), CAFAP (Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental), EPIS (Associação Empresários pela Inclusão), CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco), Segurança Social e as IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) que trabalham diretamente com as crianças, jovens, famílias e escolas.

De acordo com a Administradora Técnica da ATEC, Sandra Neves (2013), o “Tu Importas” tem como objetivo fundamental “Evitar o abandono escolar e ajudar os jovens carenciados a seguir a via profissionalizante” e nesta perspetiva, promover “uma qualificação e certificação profissional nestes jovens”.

Victor Gil (2013), diretor regional do IEFP de Lisboa e Vale do Tejo, acrescenta ainda que “as principais vítimas do desemprego são os jovens“ e “existe uma oportunidade de eles serem colocados no mercado profissional”.

De igual modo, Gunnar Killian (2013), presidente da Fundação, sublinha que o programa “visa promover a integração profissional destes jovens, combatendo o abandono escolar, alavancando a formação e proporcionando uma qualificação escolar e profissional, em consonância com o modelo de Dupla Certificação comummente praticado na Alemanha”.

Para além da frequência no curso, os jovens selecionados puderam usufruir de apoios sociais, designadamente, de uma bolsa mensal, de acordo com os rendimentos do agregado familiar, do subsídio de transporte e de refeição e material de estudo.

A entrada para o curso exigia uma fase de recrutamento e seleção rigorosa, com a realização de testes psicotécnicos e de uma entrevista que pretendia apurar a vocação e motivação para a frequência de um dos cursos, assim como analisar o percurso académico, o histórico de desistências e averiguar a estrutura e suporte familiar.

A Maria (nome fictício) tem 19 anos e saiu da escola aos 17 anos, quando frequentava o 10º. Ano do ensino público, devido ao divórcio dos seus pais. Vive com a mãe que depende de subsídios do estado. Ambiciosa e com competências de liderança, vê neste projeto a possibilidade de obter uma formação de qualidade.

O Manuel (nome fictício) tem 22 anos e deixou a escola com 17 anos, após o nascimento da sua filha. Conseguiu um emprego sazonal para sustentar a sua família. Deseja terminar a escolaridade obrigatória e aprender uma profissão para sustentar a sua família.

As vagas para os cursos eram limitadas, 100 mais precisamente, para a constituição de cinco turmas, a iniciarem em 2013, nas profissões/áreas de Técnico de Eletrónica, Automação e Comando; Técnico de Manutenção Industrial; Técnico de Informática e Técnico de Mecatrónica Automóvel.

Os cursos tiveram início em Novembro de 2013. As primeiras duas semanas foram dedicadas ao Programa de Integração que consistia nas seguintes temáticas e atividades:

·       Regras de conduta ATEC

·       O que é a Indústria

·       Áreas de atividade na Indústria

·       “O profissional vem à Academia”

·       Visitas a empresas de diferentes setores de atividade

·       Análise sobre a empregabilidade em Portugal

·       Orientação profissional – que profissão escolher?

·       Como gerir eficazmente os apoios sociais atribuídos

·       Programa de estimulação cognitiva

·       Atividades práticas para o desenvolvimento de competências de comunicação, raciocínio e relações interpessoais

·       Trabalho em equipa

·       Teambuilding

Concluído o programa, os jovens começaram a sua formação, com uma equipa de formadores qualificados, sob a orientação do Coordenador de Turma e com o apoio administrativo da Assistente de Formação e o apoio psicossocial de uma Psicóloga.

O programa dos cursos estava dividido em quatro componentes de formação que decorreram durante um período aproximado de três anos:

·       Componente sociocultural (Línguas, Cultura e Comunicação – Cidadania e Sociedade)

·       Componente científica (Ciências Básicas)

·       Componente tecnológica (Tecnologias Específicas)

·       Componente prática (Formação Prática em Contexto de Trabalho)

Periodicamente eram realizadas reuniões de equipa para acompanhar o processo de ensino e aprendizagem dos formandos e delinear planos de ação para a resolução de eventuais problemas.

No decorrer da formação foram identificados alguns problemas, particularmente de absentismo, dificuldade em acompanhar as matérias, diferentes ritmos de aprendizagem, perda de interesse e comportamento. Estas situações eram reportadas de imediato para uma eficaz intervenção.

A intervenção passava, fundamentalmente, pelo apoio psicossocial, pela colaboração das famílias, pela adequação dos espaços e meios de aprendizagem e por planos de recuperação, de acordo com as dificuldades sentidas.

Eram identificadas outro tipo de situações, como problemas de visão de alguns formandos, motivo que impossibilitava o devido acompanhamento da matéria e condição que proporcionou aos formandos consultas de oftalmologia e a aquisição de lentes e armações, bem como, de uma forma geral, o acesso a prestação de cuidados de saúde.

8. RESULTADOS DO PROGRAMA

Com a conclusão dos cursos, em 2017, os jovens seguiram diferentes percursos. De entre os 87 formandos que terminaram com sucesso, 15 formandos tiveram a possibilidade de frequentar um estágio profissional na fábrica da Volkswagen Autoeuropa, 2 formandos apresentaram candidatura para estágio profissional na Volkswagen Autoeuropa, 18 formandos prosseguiram para os cursos de Especialização Tecnológica na ATEC, 2 formandos seguiram o ensino superior, 27 formandos optaram por iniciar a sua atividade laboral, 19 formandos estão em situação de desemprego à procura de emprego, 2 formandos estão em situação de emprego temporário e 2 formandos estão a ponderar sobre o seu futuro.

Para os formandos que prosseguiram o ensino superior e os cursos de Especialização Tecnológica, foi-lhes permitida a continuação do acesso à bolsa de estudo da Fundação Volkswagen.

A fundação alargou ainda o acesso à bolsa de estudo aos formandos dos cursos da Aprendizagem da ATEC que não estavam abrangidos pelo programa. Para esse fim são abertas anualmente 30 candidaturas a formandos que comprovem uma situação financeira do agregado familiar frágil.

Sem dúvida um projeto de sucesso para a maioria destes jovens que tiveram a oportunidade de serem “resgatados” da situação em que se encontravam e de investirem no seu futuro profissional. Uma iniciativa de louvar e um exemplo a seguir.

Uma Educação Inclusiva que não exclua nem marginalize, mas antes que preserve e promova a dignidade, as capacidades e o bem-estar do ser humano (Repensar a Educação, 2016).

“A educação é um direito de todos”

Malala Yousafzai

REFERÊNCIAS
ATEC acolhe formação de jovens carenciados, avaliada em 3 milhões (2013). ATEC Imprensa. Fonte Sem mais Jornal. Recuperado em 30 junho, 2017, em https://www.atec.pt/images/stories/imprensa/2013/ATEC_acolhe_formacao_de_jovens_carenciados_SemMais.pdf
Catálogo Nacional de Qualificações. Para uma oferta relevante e certificada. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.catalogo.anqep.gov.pt/boDocumentos/getDocumentos/136
Formação Profissional para os Jovens. Projecto Portugal. Volkswagen Belegschaftsstiftung. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.volkswagen-belegschaftsstiftung.de/index.php?id=31
Jovens carenciados recebem formação na ATEC em Palmela (2013). ADN - Agência de Notícias. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.adn-agenciadenoticias.com/2013/10/jovens-carenciados-recebem-formacao-na.html
Perfil dos alunos à saída da Escolaridade Obrigatória. Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho, criado nos termos do Despacho n.º 9311/2016, de 21 de julho. Acedido em 30 junho, 2017, em http://dge.mec.pt/sites/default/files/Noticias_Imagens/perfil_do_aluno.pdf
Regulamento Específico dos cursos de Aprendizagem. Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos. Direção Regional de Qualificação Profissional Direção de Serviços de Regulação e Controlo Financeiro. Recuperado em 30 junho, 2017, em http://www.drfp.pt/empresasentidades/homologarcursos/comorenovarahomologacao/Formulrios/Reg_Esp_Cursos_Aprend_2014_R2.pdf
Repensar a Educação (2016). Rumo a um bem comum mundial? Edições Unesco. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Uma opção para agregados com carências (2013). ATEC Imprensa. Fonte Vida Económica. Recuperado em 30 junho, 2017, em https://www.atec.pt/images/stories/imprensa/2013/Uma_opcao_para_agregados_com_carencias_VidaEconomica.pdf
 
 
 


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