Portugal é um dos países da União Europeia
(UE) com maior taxa de adultos ativos pouco escolarizados. O desenvolvimento
económico e social do país depende também do seu capital humano, nomeadamente
do seu nível de competências e qualificações. Neste sentido, a Educação e
Formação de Adultos revela-se de extrema importância, abrangendo três dimensões
distintas: as práticas sociais, as políticas públicas e o campo científico.
Apesar do significativo esforço para
elevar a qualificação da população, permanecemos distantes dos níveis de
qualificação dos países mais desenvolvidos, não ficando deste modo asseguradas
as condições necessárias ao seu desenvolvimento, no contexto de uma economia
global cada vez mais baseada no conhecimento.
Presentemente a escolaridade obrigatória
termina com a conclusão do 12.º ano ou no momento escolar em que o aluno
alcance os 18 anos (Lei nº. 85/2009, de 27 de agosto). No entanto, a
escolaridade obrigatória é determinada em função da data de nascimento dos
indivíduos.
Os adultos pouco escolarizados
correspondem aos indivíduos com idade superior a 15 anos que não possuem a
escolaridade básica obrigatória correspondente ao seu grupo etário. O insucesso e o abandono escolar aliados à ineficácia das
políticas educativas são os principais factores da baixa escolarização da
população portuguesa e justificam a precariedade no mercado de trabalho, o
desemprego e em casos mais extremos, a exclusão e marginalização social.
Ao longo das últimas décadas é evidenciada
uma significativa alteração (positiva) no que respeita à escolarização da
população com idade superior a 15 anos. Em 1998 a população adulta sem nível de
escolaridade representava 19.1% enquanto em 2014 o valor descia para 8.9%.
Porém, Portugal continua com indicadores
muito baixos em comparação com os indicadores dos restantes países da UE. Esta
situação revela o insuficiente esforço por parte das políticas públicas,
designadamente para a Educação de Adultos.
A Educação de Adultos é definida como um
conjunto dos momentos de formação de carácter formal e informal presente no
trabalho e na vida quotidiana. O objectivo deste campo educativo vai além dos
sistemas de ensino e de formação profissional tradicionais para se projectar na
própria realização individual dos sujeitos. Estrutura-se em duas principais
modalidades:
- A educação extra-escolar tem como objectivo permitir a cada indivíduo aumentar os seus conhecimentos e desenvolver as suas potencialidades, em complemento da formação escolar ou em suprimento da sua carência (Lei nº 49/2005 de 30 de Agosto – Lei de Bases do Sistema Educativo);
- O ensino recorrente tem como objectivo permitir
aos indivíduos que já não se encontram na idade normal a frequência dos
ensinos básico e secundário (Lei nº 49/2005 de 30 de Agosto – Lei de Bases
do Sistema Educativo).
No decorrer dos últimos anos as políticas
educativas da Educação de Adultos assumiram uma grande relevância nas
organizações internacionais (UNESCO, OCDE e UE) com o objectivo de elevar as
qualificações e competências da população dos países da UE.
Nas Conferências Internacionais de
Educação de Adultos são debatidas as grandes directrizes e as políticas globais
da Educação de Adultos. No decorrer destas conferências são demonstradas as
mudanças de percepção da Educação de Adultos, desde a Alfabetização à Aprendizagem
ao Longo de toda a Vida, na qual a Educação de Adultos é vista tanto como parte
do continuum da educação.
A Aprendizagem ao Longo da Vida é entendida como toda e qualquer actividade de aprendizagem, empreendida numa base contínua
e visando melhorar conhecimentos, aptidões e competências, sendo assumida como uma
estratégia para a competitividade económica, a criação de emprego, a
flexibilidade e a coesão social.
Os argumentos que enquadram o movimento da
Aprendizagem ao Longo da Vida suportam-se no discurso, essencialmente, assente
na responsabilização individual, considerando-se que “cada um deve ter consigo
próprio a relação de um empreendedor com o seu produto, procurar «vender-se»,
negociar o «capital» em que se tornou” (Dubar, 1996, p.23). Ao Estado é
atribuído um novo papel, orientado para a definição de políticas,
acompanhamento, supervisão e avaliação das práticas (V Conferência da Unesco).
De igual forma, a aposta em parcerias e a responsabilização da sociedade civil
também fazem parte dos objectivos traçados pela Comissão Europeia.
Neste seguimento, apesar das expectativas
criadas em torno das várias iniciativas de programas de Educação e Formação de
Adultos, entre os quais são destacados, o Sistema Nacional de Reconhecimento Validação
e Certificação (RVCC), os cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA) e os
Clubes S@ber+, alguns autores criticam as suas verdadeiras intenções. Será
realmente uma segunda oportunidade para os adultos que não terminaram o ensino
em tempo útil?
Numa entrevista efectuada ao Professor Lícinio Lima (Universidade do Minho), durante o Fórum Internacional da Sociedade, em virtude da VI Conferência Internacional, o Professor faz uma análise sobre a
Educação de Adultos em Portugal que não deixa de ser bastante pertinente. Defende que em muitos casos a Educação de
Adultos é uma solução limitada a processos de gestão da crise, amortecendo as
taxas de desemprego, através da inclusão de certos grupos em cursos ou acções, e
através de bolsas de formação, na busca de efeitos paliativos. Nessas
circunstâncias, o discurso da Aprendizagem ao Longo da Vida chega mesmo a
abandonar a sua conhecida teoria dos “défices de aprendizagem” e de
“qualificações”, dado que abaixo de certos níveis de “qualificação”,
especialmente em sectores sujeitos a fortes movimentos de reestruturação
económica e de mudança organizacional, deixa de haver “necessidades de formação
e de aprendizagem”, subsistindo apenas o excesso de mão-de- obra.
Estes factores não vão ao encontro das
orientações dadas pelos organismos, como a UNESCO, a OCDE e a UE, sendo
evidente o desperdício sobre o investimento financeiro, nacional e
internacional para o campo da Educação de Adultos.
A Educação de Adultos
enfrenta diversos problemas que têm contribuído para a sua debilidade
estrutural na nossa sociedade, entre os quais são destacados: o reduzido
reconhecimento social; a predominância a curto prazo; a inexistência de
financiamento específico; a excessiva valorização de projectos e acções de
carácter formal; o peso da não participação; a diversidade de formas de
intervenção educativa e pedagógica; a integração fácil noutros projectos que não
são exclusivamente de Educação de Adultos; aumento da participação que não tem
sido suficiente (Alves. N. et al., 2014).
Actualmente a Educação de Adultos em
Portugal é sustentada por momentos extremos, ora se promovem diferentes ofertas
de educação de carácter formal e informal, ora se extingue/suspende abruptamente
as ofertas existentes e quando existem não chegam a todos os quanto delas
necessitam. Esta situação revela a fraca intervenção do Estado e põe em causa o
seu papel, apesar das recomendações e medidas estratégicas impostas pela
UNESCO.
A Educação de Adultos depende
essencialmente das políticas públicas que, de acordo com Lima (2005), nas
últimas quatro décadas são marcadas, sobretudo, pela intermitência,
fragmentação e forte dependência dos ciclos políticos. O discurso político
dominante sobre a Educação de Adultos incide nas “qualificações ao longo da
vida”, ou nas “qualificações para o crescimento económico”.
O conceito de Educação vai sendo
progressivamente substituído pelo conceito de Aprendizagem ao Longo da Vida e
pelos seus derivados: qualificações, competências e habilidades, definidos
estrategicamente em termos funcionais e adaptativos (Alheit & Dausien,
2003: 3).
Trabalho realizado no âmbito da UC Análise de Casos de Formação para a Integração Sócio-Laboral.
Trabalho realizado no âmbito da UC Análise de Casos de Formação para a Integração Sócio-Laboral.
